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terça-feira, 17 de março de 2009

Para paciente, o câncer respeita seu próprio tempo

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O câncer insiste em ter seu próprio tempo. Se você decide desafiá-lo, ele pode acabar com você, fisica e espiritualmente. Ele não conhece prazos e BlackBerrys, Twitter e entrega no dia seguinte. O câncer é analógico em um mundo digital. Se você tem uma personalidade do tipo A, precisará se ajustar ao tipo C - para o câncer. Cada etapa da doença - diagnóstico, cirurgia, radiação e outros tratamentos - carrega seu próprio senso distinto de se estar saindo do tempo tradicional e seu sabor amargo de descolamento.

Entrei no Tempo Padrão do Câncer em 7 de abril, no momento em que soube, aos 50 anos, que tinha câncer de próstata. Havia feito uma biópsia três dias antes e pensei ter entendido totalmente que as chances eram de 50%. Mesmo assim, percebo agora, secretamente acreditava não ser possível eu ter câncer. Isso apenas acontecia com outras pessoas.

Naquele instante, senti que parei no tempo - O quê? O quê? O quê? - como um CD riscado que pula e repete no tocador. Perguntei-me se havia entendido errado.

Decidi ter minha próstata removida e os três meses entre o diagnóstico e a cirurgia foram nebulosos. Fui pego em um redemoinho de testes e exames, decisões de tratamentos e negociações com o plano de saúde. (Elas foram negociações de refém, nas quais eu era o refém.) Aqueles dias voaram, com a força gravitacional da cirurgia.

No hospital, o tempo não tinha nenhum significado. Depois de entrar na sempre instável máquina do tempo da anestesia e sair do outro lado respirando, vivi cada momento confuso do pós-operatório sem me preocupar com o passado ou o futuro. Tudo que sabia era que podia apertar o botão da morfina a cada 10 minutos e cochilar quando quisesse.

Aqueles três dias andaram em círculos de idas ao hospital, esvaziamento dos drenos e medição de pressão e temperatura. Não sabia ao certo que dia era e não importava. Estava vivo. E confiava na data impressa na primeira página do New York Times.

Então, a vida se tornou ainda mais complicada. No dia 16 de julho, nove dias após a cirurgia, recebi os resultados do meu exame patológico. Descobri que meu provável câncer de estágio 1, que parecia bem comum, era inesperadamente agressivo. Ele havia se espalhado e agora era classificado como estágio T3B. Mais tratamentos seriam necessários.

Brincava que meu objetivo era viver até os 106, fazendo uma transição gradual de escritor para sábio. Quando recebi meu exame patológico, senti todas aquelas décadas dadas como certas escorrendo pelos meus dedos. 106 anos? Vamos torcer por 60, ou até 51.

Mas antes de me focar na próxima etapa da terapia - tomei minha primeira injeção de hormônio em outubro e comecei a radiação em dezembro - tinha que completar minha recuperação pós-operatória. Você precisa sarar antes de receber mais tratamento que pode prejudicá-lo novamente para curá-lo.

Mas a recuperação também tem seu próprio tempo. Não importa o quanto você insista - e insistência não é necessariamente ruim - você precisa entender que o câncer e seu tratamento vão resistir a isso.

Passei sete semanas me recuperando no último verão americano e o tempo mais uma vez se curvou de maneiras estranhas. Foi o primeiro verão em que não trabalhei desde meus 14 anos e me esbaldei na melancolia da infância: revistas em quadrinhos e R&B, passeios e cochilos espontâneos. Enquanto convalescia, tive uma sensação de conto de fadas como se estivesse fora do tempo.

Eu praticamente esperava ver videiras e trepadeiras pela casa, como se fosse algum tipo de Bela Adormecida com a cabeça raspada. As preocupações singulares do mundo não eram minhas. Obama? McCain? Michael Phelps? Bom, se você insiste.

Foi em parte por isso que meu retorno ao trabalho no final de agosto foi tão chocante. Nas ruas de Manhattan, perdi um pouco do ritmo em meus passos. Senti um alívio agudo em relação ao frenesi barulhento e vigoroso que caracteriza Nova York. Sempre que tentava fazer um esforço físico, o câncer, a recuperação, o tratamento me davam uma resposta, lembrando que, afinal, eu ainda era um paciente. Foi como um problema de física: se o mundo acelera, mas o câncer faz com que você desacelere, o que acontece?

O tratamento de radiação levantou essa questão de modo ainda mais profundo. A radiação é exaustiva e eu sentia como se tivesse sido empurrado para uma linha do tempo alternativa. Continuei trabalhando, mantive algo parecido com uma vida social. Mas também parecia que eu ficava para trás. Tinha de alguma forma viajado para fora do tempo e a minha mente estava cinza e nevava, como uma cidade do bloco soviético nos anos 1950.

Sinto que agora estou voltando ao ritmo normal. Mas minha sensação do tempo ainda está em fluxo. Fiz minha última radiação no dia 22 de janeiro, tomei minha última injeção de hormônio em 19 de fevereiro. Essas terapias ainda estão agindo no meu corpo e eu reflito e espero pela transição do final do tratamento e os testes que dirão o estado do meu câncer de próstata.

Mas mesmo enquanto penso no futuro - de curto e longo prazo - ainda estou preso ao agora e hoje, e ainda sou lembrado de que sou um paciente.

Enquanto escrevia este artigo, ah, em torno de duas horas de uma tarde de domingo, a fatiga causada pelos hormônios tomou conta de mim, além de uma dor de cabeça e calores. Então, suspirei, dei de ombros e baixei a cabeça para o Tempo Padrão do Câncer - e fui para meu canto tirar um cochilo.

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