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quinta-feira, 19 de março de 2009

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MARIA DEGOLADA
Lenda de Porto Alegre (RS)

De cerca de vinte anos para trás qualquer brasileiro podia planejar sem receio um piquenique ao ar livre com sua família, e assim passar algumas horas tranqüilas ao lado de mulher e filhos, à beira de algum curso d’água, em meio ao verde reconfortante de um pequeno bosque, ou até mesmo aproveitando a sombra amiga com que uma solitária árvore frondosa refrescava e amenizava a monotonia de determinado trecho de estrada. Infelizmente, isso hoje já não é mais possível porque os malfeitores andam ativos e vigilantes, espreitando por todos os cantos em busca de vítimas potenciais, e é sempre bom saber que eles não perdoam os desprevenidos ou despreocupados, aqueles que “dão chance ao azar”, como ensina a linguagem popular, e por isso não se escondem atrás de sete chaves para proteger o que têm de valioso, a começar pela própria vida. São os tempos modernos...

No final do século 19 o viver dos homens, das mulheres e das crianças era mais tranqüilo, mais pacífico, mais fácil de ser desfrutado sem maiores sobressaltos, embora vez ou outra a violência já andasse aprontando das suas. Afinal de contas, a natureza humana é imprevisível, o que tem sido sobejamente demonstrado desde o princípio, quando Caim matou Abel e deu início a essa prática nefanda. Foi o que aconteceu no dia 12 de novembro de 1899, data em que Bruno Soares Bicudo, um soldado conhecido como Brum, do 1º Regimento de Cavalaria da Brigada Militar gaúcha, combinou um piquenique com sua namorada Maria Francelina Trenes, de 21 anos, e mais os seus amigos e também soldados Felisbino Antero de Medina, Manoel Alves Nunes e Manoel Antonio Vargas, que deveriam comparecer acompanhados de suas respectivas esposas.

O local escolhido foi um morro situado no atual bairro Partenon, defronte ao terreno onde funciona o Hospital Psiquiátrico São Pedro, na avenida Bento Gonçalves, e que na época ainda se encontrava coberto pelo mato e algumas árvores. Foi ali que a excursão dos jovens se prolongou por algumas horas de alegria descontraída, e quando o churrasco acabou, Bruno e Maria Francelina afastaram-se do grupo porque haviam iniciado uma pequena discussão. Depois disso a tarde avançou sem novidades até o momento em que os demais participantes do passeio se deram conta de que a ausência dos dois se prolongava por tempo além do razoável. Então eles começaram a pro-curálos pelas redondezas, encontrando o soldado ao lado de uma figueira, com uma faca na mão, e a moça estirada no solo, toda ensangüentada. Ela havia sido degolada pelo rapaz que a acompanhava.

Desorientados com aquela tragédia que não conseguiam entender, os três militares trataram de comunicar o ocorrido aos seus superiores hierárquicos no regimento, e de lá foi enviada imediatamente uma guarnição que desarmou o assassino e o levou preso para o quartel. Posteriormente, ele foi julgado pela justiça e condenado a 30 anos de reclusão na Casa de Detenção de Porto Alegre, aonde veio a falecer sete anos depois, assassinado, ao que se sabe, por outro detento.

Com a elucidação do caso as populações periféricas de Porto Alegre passaram a considerar Maria Francelina como uma santa que atendia aos pedidos e orações dos desafortunados, principalmente após se ter espalhado a notícia de que em uma sessão espírita realizada nas proximidades do local do crime, havia sido recebida uma mensagem da moça declarando que não desejava ser lembrada como “Maria Degolada”, e sim pelo seu verdadeiro nome. Nessa época, já surgira no alto do morro uma pequena vila, cujos moradores decidiram em reunião que dali em diante o lugar seria chamado de Maria da Conceição, denominação que de fato aparece nos registros da administra-ção pública.

No local foi erguida uma construção tosca sobre o que diziam ser o túmulo da moça assassinada, uma espécie de capela (ilustração) aonde até os dias de hoje chegam pessoas para fazer os mais diferentes pedidos, principalmente aqueles que envolvem "amores perdidos", “amores contrariados” ou "dores de amor". Depois de atendidas em suas solicitações elas retornam à “capela” para agradecer à benfeitora, trazendo velas, peças de cera, véus de noiva, fotos, flores e outros presentes, depositando suas oferendas junto ao túmulo. Conta-se, no entanto, que Maria Degolada atende a todos os pedidos, exceção feita aos dos policiais...

A tragédia acontecida no morro do Hospício serviu de tema à publicação intitulada “Maria Degolada, mito ou realidade?”, da Editora Estadual Arquivo Público do Rio Grande do Sul, 1994, Porto Alegre, sendo mencionada, ainda, em “Rio Grande do Sul: um século de história”, de Carlos Urbim, Lucia Porto e Magda Achutti, Porto Alegre, 1999, volume 2, páginas 625/626; e “Porto Alegre: guia histórico”, de Sérgio da Costa Franco; Editora da UFRGS, 1988, página 259.

Também no teatro o triste acontecimento é relembrado através da peça “Maria Degolada”, de Hércules Grecco, cujo resumo informa que ela “conta a tragédia de Maria Francelina, mulher marcada pela violência do início ao fim de sua vida, tendo como pano de fundo a Revolução Federalista de 1893. Com sensibilidade e originalidade, o autor trata temas delicados, como a cultura da violência e o papel da mulher no cotidiano provinciano”.

Sobre o Hospital São Pedro, destinado ao tratamento psiquiátrico na cidade de Porto Alegre, ele teve sua construção iniciada em 02/12/1879, sendo a primeira parte terminada em 1884; mas somente em 1903 concluiu-se o seu quinto e último pavilhão. Ele chegou a abrigar mais de cinco mil pessoas, porém, com a adoção de uma nova política de atendimento médico aos que têm problemas psíquicos, o hospital está sen-do gradativamente desativado.

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